O pretérito de uma estrela, o
futuro afinal.
Naquele dia, ele, que seguia a
passos largos pela vida, decidiu parar. Subitamente fez esta pausa porque
naquele instante, no céu, algo lhe chamara a atenção. E era uma estrela! Uma
simples estrela como todas as outras, tão ordinária que se perdia em meio a
tantas outras. Mas, por algum motivo, ela, em sua simplicidade tornou-se única
para ele... E, por conta dela, ele decidiu se sentar à beira da estrada que
permeia o cotidiano da vida e admirou aquela pequena estrela em específico,
perdida na multidão de suas iguais.
E sentado, observando o infinito,
notou uma gota do suor de sua juventude lhe escorrendo a face, fruto de sua
longa caminhada. Uma caminhada que, apesar de seus pouco mais de vinte anos,
sempre havia sido longa. Sentia-se cansado de tantas andanças e, pensou que
talvez por isso, a estrela tenha lhe chamado atenção, justo naquele momento. Ele
sabia que era muito jovem perante aquela estrela... E muito jovem perante o
mundo e até mesmo perante a si mesmo. Por que então sentia ter história demais
para contar? Ou para não contar, já que ele sempre fez questão de caminhar
sozinho...
Mas, no momento em que observava
a estrela, percebeu, na realidade, que seus olhos olhavam para o passado. Via
luzes emitidas há anos e anos a fio. O que ele enxergava naquela hora era o
passado longínquo de sua estrela... Estaria ela morta, afinal? Esperava que
não! E, em sendo ela uma estrela viva, questionou-se se ela olharia na direção
dele imaginando que ele seria o futuro... E ele seria o futuro? Teria um
futuro? E o que é o futuro, afinal? Seria aquele lugar no espaço tempo em que
nunca chegaremos? Ou todo hoje é o futuro de outrora, e o agora nada mais é do
que o futuro de ontem? Nunca o alcançaremos? Ou vivemos constantemente no
futuro, afinal?
E ele pensou com que olhos a
estrela o observaria, como ela contemplaria seu próprio futuro. E quis lançar um
olhar exatamente igual para o seu próprio amanhã. Seriam olhos, acima de tudo,
esperançosos, ele pensou. Com um brilho único que só poderia existir se fossem
olhos de estrela. Quis imaginar que sua caminhada árdua, embaixo de estrelas,
sóis e luas, tem um destino, afinal. Que cada passo, cada gota de suor, cada
momento de angústia são para um propósito ainda não tangível.
Porque apesar de sua tão pouca
idade houve sim momentos de angústia. E não foram poucos. Momentos cravados em
sua pele, mas escondidos pelas tatuagens e perfurados pelos piercings, na
esperança de poder ocultá-los. Momentos de solidão, inquietude e incompreensão
mascarados em rebeldia. Lágrimas, soluços e tristezas encobertos em respostas
truculentas e tom de escárnio. Toda uma resistência para disfarçar que o
percurso lhe consumia, que era prejudicial e que o caminhar constantemente lhe
era fatal.
Talvez aquela estrela simplória
(e também solitária?) houvesse percebido isso, pois lhe chamou a atenção no
momento certo. Ou talvez os olhos dele tivessem procurado no cosmos algum
acalanto para o seu coração. Independente de que quem olhou primeiro para quem,
o fato é que os olhares se cruzaram: olhos estelares e olhos excessivamente
pequenos riscados por fiapos de escuridão. Mas o fato é que quando uma estrela
olha em sua direção, você deve seguir este olhar. Você deve olhar para o futuro
como ela. Você deve ser um corpo celeste, ter luz própria e saber que sempre
deve haver esperança no amanhã. Porque – e ele entendeu naquele momento – o
futuro da estrela é, e agora também seria o dele, o infinito!
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