sexta-feira, 4 de julho de 2014

Proseando...

     
O pretérito de uma estrela, o futuro afinal.


    Naquele dia, ele, que seguia a passos largos pela vida, decidiu parar. Subitamente fez esta pausa porque naquele instante, no céu, algo lhe chamara a atenção. E era uma estrela! Uma simples estrela como todas as outras, tão ordinária que se perdia em meio a tantas outras. Mas, por algum motivo, ela, em sua simplicidade tornou-se única para ele... E, por conta dela, ele decidiu se sentar à beira da estrada que permeia o cotidiano da vida e admirou aquela pequena estrela em específico, perdida na multidão de suas iguais.

     E sentado, observando o infinito, notou uma gota do suor de sua juventude lhe escorrendo a face, fruto de sua longa caminhada. Uma caminhada que, apesar de seus pouco mais de vinte anos, sempre havia sido longa. Sentia-se cansado de tantas andanças e, pensou que talvez por isso, a estrela tenha lhe chamado atenção, justo naquele momento. Ele sabia que era muito jovem perante aquela estrela... E muito jovem perante o mundo e até mesmo perante a si mesmo. Por que então sentia ter história demais para contar? Ou para não contar, já que ele sempre fez questão de caminhar sozinho...

     Mas, no momento em que observava a estrela, percebeu, na realidade, que seus olhos olhavam para o passado. Via luzes emitidas há anos e anos a fio. O que ele enxergava naquela hora era o passado longínquo de sua estrela... Estaria ela morta, afinal? Esperava que não! E, em sendo ela uma estrela viva, questionou-se se ela olharia na direção dele imaginando que ele seria o futuro... E ele seria o futuro? Teria um futuro? E o que é o futuro, afinal? Seria aquele lugar no espaço tempo em que nunca chegaremos? Ou todo hoje é o futuro de outrora, e o agora nada mais é do que o futuro de ontem? Nunca o alcançaremos? Ou vivemos constantemente no futuro, afinal?

      E ele pensou com que olhos a estrela o observaria, como ela contemplaria seu próprio futuro. E quis lançar um olhar exatamente igual para o seu próprio amanhã. Seriam olhos, acima de tudo, esperançosos, ele pensou. Com um brilho único que só poderia existir se fossem olhos de estrela. Quis imaginar que sua caminhada árdua, embaixo de estrelas, sóis e luas, tem um destino, afinal. Que cada passo, cada gota de suor, cada momento de angústia são para um propósito ainda não tangível.

      Porque apesar de sua tão pouca idade houve sim momentos de angústia. E não foram poucos. Momentos cravados em sua pele, mas escondidos pelas tatuagens e perfurados pelos piercings, na esperança de poder ocultá-los. Momentos de solidão, inquietude e incompreensão mascarados em rebeldia. Lágrimas, soluços e tristezas encobertos em respostas truculentas e tom de escárnio. Toda uma resistência para disfarçar que o percurso lhe consumia, que era prejudicial e que o caminhar constantemente lhe era fatal.


      Talvez aquela estrela simplória (e também solitária?) houvesse percebido isso, pois lhe chamou a atenção no momento certo. Ou talvez os olhos dele tivessem procurado no cosmos algum acalanto para o seu coração. Independente de que quem olhou primeiro para quem, o fato é que os olhares se cruzaram: olhos estelares e olhos excessivamente pequenos riscados por fiapos de escuridão. Mas o fato é que quando uma estrela olha em sua direção, você deve seguir este olhar. Você deve olhar para o futuro como ela. Você deve ser um corpo celeste, ter luz própria e saber que sempre deve haver esperança no amanhã. Porque – e ele entendeu naquele momento – o futuro da estrela é, e agora também seria o dele, o infinito!

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