domingo, 13 de novembro de 2011

Proseando...


Meu devaneio

Esta noite tive um sonho. Sonhei com ele novamente... Há tempos este cavaleiro habita meus sonhos. Costumava sentar na colina para observas as estrelas, sempre sozinha!  Ele, que é de um povoado distante, de alguma forma, sentiu a minha solidão e veio até mim montado em seu rubro corcel alado, simplesmente para me fazer companhia. Desde então ele vem, quase todas as noites, ficando ao meu lado, dividindo alguns segredos e muitos sorrisos... Ele passou a ser a minha alegria...

Por vezes, não via à hora de adormecer para encontrá-lo novamente. Ele passou a habitar também os dias em meus pensamentos.  Dormia tão ansiosa a fim de revê-lo... Entretanto, algumas noites ele não aparecia, mas eu compreendia que nem sempre é possível ter o mesmo sonho, e eu sabia que ele voltaria... Ele sempre voltava!

Havia, contudo, a armadura que ele vestia e que nunca tirava. Não conseguia vê-lo diretamente e, tampouco, tocá-lo. Mas, a cada sonho que passava, por mais que eu não visse seu rosto, eu o conhecia mais profundamente e, cada vez mais, queria que ele não partisse, queria que a noite durasse a eternidade ou que ele me levasse para alcançar as estrelas, a galope em seu corcel.

Certa noite, ele pegou minha mão, montou-me em seu cavalo alado e cavalgamos juntos. Abracei sua cintura, deitei em sua omoplata e, por alguns instantes, pude senti-lo, assim como pude sentir meu coração que também troteava.

Não sei bem o momento em que o amei. Apenas sei que o amo. Eu não o vejo, não o toco e mesmo assim o amo! Porque somente os olhos não bastam para ver o que ele é de verdade, e somente o tato é incapaz de senti-lo realmente. Porque ele é mais do que se percebe... E de todas as conversas que tivemos, de tudo que aprendi sobre quem ele é, além de olhá-lo, eu o admirava, mesmo sob sua armadura.

No entanto, matinha o meu segredo. Sabia que não podia lhe falar. Tinha tanto medo que partisse... Até porque eu sempre soube que sua verdadeira morada não era em mim. E, cedo ou tarde, ele regressaria para seu vilarejo e eu retornaria à minha colina.

Pensamentos confusos sobre esses assuntos rodavam a minha cabeça durante o dia. Por vezes queria arrumar um jeito de ele partir de vez, mas, na maioria das vezes, queria mesmo que ele permanecesse e, ao fim de cada dia, mesmo me recusando a aceitar, adormecia à sua espera...

Esta noite, entretanto, ele estava diferente. Tentou disfarçar arrancando sorrisos de mim, como sempre fazia com muita facilidade. Mas havia algo que precisava ser dito antes que eu acordasse. Foi quando, por fim, disse-me que não mais retornaria aos meus sonhos. Que fora chamado para proteger seu vilarejo que estava com problemas e necessitando de guarda. E mesmo que ele me quisesse por perto, sabia de sua obrigação para com seu povo e iria partir.

Eu sempre soube que isso poderia acontecer! Enquanto meus lábios sorriam e desejavam-lhe sorte, meu coração pranteava em silêncio... Algo que não era difícil para ele que já tanto havia se calado! Mas, em respeito ao meu coração contrito, disse ao meu cavaleiro onírico: “Não podes partir sem saber que eu te amo. E, por tanto te amar, deixo que sigas teu caminho desejando que sejas sempre feliz.”

Ele retribuiu minhas palavras com um leve sorriso, pegou minha mão e colocou algo disforme dentro dela. Disse que se tratava de um bilhete que havia escrito para mim e pediu que eu o lesse somente após sua partida. Montou em seu cavalo de fogo e seguiu para os céus, estaria agora em qualquer lugar fora de mim...

Apesar de ele ter sido apenas a companhia que meus sonhos solitários precisavam, e de nunca termos nos tocado de verdade, eu sei que o amo. E sei que ainda vou esperá-lo por algumas noites, mesmo sabendo que ele não retornará, até meu coração entender...

Pensando nisso, meus dedos relaxaram e abriram o bilhete. Li. Havia apenas uma frase curta que me fez sorrir! Ele sabia exatamente o que eu diria no momento de sua partida. No pequeno papel, já amassado por minha angústia, alguns segundos antes de acordar, li as três palavras que me diziam: “Amo-te também.”


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