sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Proseando....

           
 As meninas e os livros.




        Oie... Depois de muuuito tempo de divagações poéticas, eis que sou eu mesma que vos fala! Rs. E como prólogo desta postagem (juro que não é um poema!) vou contar um pouquinho da minha história com as palavras! Ou seria o meu amor por elas? porque eu as amo, sempre as amei. Descobri muito cedo que elas eram minhas companheiras de todas as horas. E descobri isto através do maior  transportador de palavras. Aquele que tem todas elas sem ter todas elas: o livro!
          Sempre li. Lia revistinhas, quadrinhos, e todos os assuntos dos livros didáticos da escola. Mas nunca me esqueci do meu primeiro “grande” livro. Coloco as aspas porque ele era muito grande para mim, na época. Tinha, aparentemente, páginas demais para os meus 7 ou 8 anos. Mas o li por completo e, ainda hoje, lembro-me muito bem das emoções sentidas através das palavras de José Mauro de Vasconcelos em Meu Pé de Laranja Lima (que, aliás, recomendo!). É uma grande história, um grande livro, mas não, necessariamente, grande em número de páginas. Não mais, para mim! Rs.
          Poderia falar de vários outros livros que li, que leio ou que lerei, mas o fato aqui é que o dom da palavra é algo excepcional. Palavras, bem escritas, bem organizadas, tiram você do controle de si mesmo e levam você para onde elas querem. Despertam sentimentos, liberam sorrisos e lágrimas, exploram sua imaginação, fazem você viver tantas outras realidades... Enfim, eu as amo. Amo palavras, amo ditá-las, amo escrevê-las, amo lê-las!
         Considero esse um dos motivos por eu ter amado tanto o livro A Menina que Roubava Livros, de Markus Zusak. Porque Liesel, a personagem principal do romance, compartilha comigo de todo este amor e devoção às palavras. Hoje, tenho este livro como o melhor de todos que já li (e que não são tão poucos). Esta postagem, então, é sobre ele: sobre o livro, sobre a menina, sobre as palavras...
        Há tempos queria lê-lo, mesmo sem saber de seu enredo. Simplesmente achava curioso ele ser contado pela Morte: “Quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler”, é que o diz a capa do livro. Que bom que eu parei, e recomendo que, se você ainda não o fez, dê a si mesmo esta pausa.
      
A Menina que Roubava Livros conta a história de Liesel Meminger, uma garota que se viu meio perdida ao ser entregue a uma família adotiva alemã, durante a Segunda Guerra Mundial. O casal Hans e Rosa Hubermann receberiam duas crianças para criar em troca de uma pequena pensão, mas somente Liesel chegou ao seu destino. E, no primeiro momento do livro, entendemos o porquê. Seu irmão caçula havia ficado para trás para sempre durante a viagem congelante, no exato momento que a Morte se depara com Liesel pela primeira vez (elas se encontrariam mais duas vezes, a partir daquele momento). Momento este quando conhecemos a nossa narradora, que é bem mais sensível do que poderíamos supor.
       O livro segue descrevendo todas as dificuldades de se viver na Alemanha nazista, para as crianças, para os adultos e, principalmente para os que não eram nazistas. E nem estou falando dos judeus. Destes, você sente a dor, o sofrimento extremo, a agonia, o desespero. E este é mais um dos motivos pela minha paixão por esta obra. Este tema me é surpreendente! O que aconteceu com o povo judeu durante a Segunda Grande Guerra é tão terrivelmente tocante que me detém.
       E a sensibilidade do autor, Markus Zusak, é algo indescritível. A história é tão delicadamente contada, os personagens são tão minuciosamente trabalhados em nós, leitores, que assumimos suas histórias, sentimos suas angústias – que não são poucas, vivemos cada momento de aflição e de suas pequenas felicidades. Sem falar na poesia... Zusak tem um modo de escrever poético que explora sentidos surpreendentes para cada uma de suas palavras. O que torna tudo mais tocante, mais tocável... Eis um exemplo:
 
“As labaredas cor de laranja acenavam para a multidão, à medida que papel e tinta se dissolviam dentro delas. Palavras em chamas eras arrancadas de suas frases. Do outro lado, para além do calor das formas indistintas, era possível ver as camisas pardas e as suásticas dando as mãos.”

     Preciso explicar mais alguma coisa? Pois o livro é feito disso, palavras poéticas. Sensibilidade extrema para tratar de um assunto altamente delicado por si só. E, no meio da trama, mais um ponto de sensibilidade: os relacionamentos, as amizades que podem se formar tão intensas em momentos tão difíceis (aliás, talvez sejam essas as mais verdadeiras!). Tudo isso entremeado entre livros furtados aqui e ali por Liesel, que dividiria suas palavras com Max, um morador judeu clandestino que sua família adotiva passou a abrigar.

      
Max, praticamente morto de frio e inanição, chegou à casa dos Hubermann por conta de uma antiga promessa. E, apesar de todos saberem os riscos de se ter um judeu no porão, e do próprio Max não se considerar merecedor de ajuda - não com tantas consequências terríveis que sua estada poderia causar - todos os moradores da casa, desconhecidos uns para os outros, de certo modo, tornaram-se uma família. Liesel encontrou neste judeu magrelo um verdadeiro amigo e, mais tarde, um companheiro para dividir as histórias de seus livros roubados e  de sua pequena vida que, em sua maioria, eram vividas com seu amigo que sonhava em ser velocista, Rudy Steiner.        Eu poderia aqui falar da linda amizade de Liesel e Rudy - o garoto corredor -,  poderia falar do amor incondicional que os Hubermann desenvolveram pela garota, cada um à sua maneira: Hans com seu acordeão e Rosa com seu vocabulário nada polido, poderia falar de Ilsa Hermann, que cedia sua biblioteca para que a garota mergulhasse em tantas palavras quantas quisesse, poderia falar dos bombardeios que os personagens passaram, afinal, estavam em guerra, poderia também falar sobre Hitler e o poder das palavras deste homem que soube dominá-las como ninguém e, acima de tudo, eu poderia falar das lágrimas e lágrimas que derramei sobre as páginas de A Menina que Roubava Livros.
         Mas não há palavras suficientes para isso. Ou, na verdade, há! E estão em cada parágrafo deste livro maravilhoso. Leiam-no. Sintam a sua história e deixem-se levar por ela... Bom, depois de tudo isso, tenho certeza que vocês perceberam que me apaixonei por este romance! Rsrs. Ele realmente me emocionou muito. É tudo muito real e delicado... Só de escrever sobre ele, tive vontade de lê-lo novamente. É bem possível que o faça!
         Eu ia escrever sobre o filme A Menina que Roubava Livros também. Tenho várias considerações a fazer a respeito dele. Maaaas, vou ter que deixar para a próxima postagem! Rs. Gastei palavras demais nessa aqui e nem sei se falei tudo o que gostaria ou até o que realmente poderia ter dito. Maaaas (2) se posso adiantar algo, é que (lembrando que são duas linguagens distintas - não se deixe misturar as coisas!) ambos são bonitos à sua maneira. E eu prefiro o livro!! rsrs.

sábado, 9 de agosto de 2014

Proseando...



Carta a um pai ausente

          Ser pai é algo além da minha compreensão. Não saberei o que é ver uma enfermeira se aproximando, virando levemente a cabeça e me entregando um bebezinho enrolado em panos brancos. Nunca saberei o que é chegar em casa e receber braços curtos exigindo entrelaçar meu pescoço e chamando-me de “papai”. E, por nunca estar do lado de lá, nunca saberei do tamanho do amor que um homem pode sentir por um filho... O único ponto que posso afirmar é que este amor é daqueles imensuráveis, daqueles sem fim!

              Só sou filha. E segui todos os trâmites do que é ser filha de um pai. Meus braços de criança já se espicharam para o homem mais importante na minha vida. Minha garganta adolescente já gritou para o homem que não compreendia a minha juventude. Meus olhos de adulto já se decepcionaram com o homem que não aceitava minhas convicções. Todos os homens em um só. Um homem, só!

               Carrego nas veias o sangue e o gênio deste homem, a quem chamo de pai. Que me ensinou sobre a importância do caráter e do respeito, sobre coerência e dignidade, sobre a vida e a poesia. E me ensinou que nada é melhor para gripe do que chá de limão e alho e que creme dental na têmpora alivia a dor de cabeça. Ensinou que sombras na parede feitas com as mãos, à luz de velas, quando falta energia, sempre são divertidas. Ensinou-me que os deuses são alienígenas.

         Sinto tanta falta de sua alegria, de sua descontração, de sua necessidade de transmitir informação, de seu alto astral, de suas brincadeiras e piadas. Sinto falta da sua comunicatividade, da vontade que tinha de estar comigo e das conversas, das muitas conversas quando discordar de suas ideias e ideais não era crime algum... Queria que não estivesse tão distante. Queria poder sentir seus olhos verdes encarando o castanho dos meus dizendo que nunca me abandonaria. Queria que sua mão estivesse segurando a minha e me guiando pelos caminhos difíceis da vida ao invés de eu ter que caminhar sempre tão sozinha.

            Sempre precisei de você ao meu lado, pai. Sempre. Porque você me dava força e inspiração. Transmitia sorrisos e sabedoria. Mostrava-me que eu sempre poderia ser melhor. E eu quis provar isso a cada dia. Esforcei-me diariamente para nunca lhe decepcionar. Desejei que tivesse orgulho da pessoa em quem eu me transformava, mesmo sabendo que você nunca estava satisfeito – coisa de pai, eu acho! Queria que não estivesse tão distante...

           Talvez seja mesmo assim, pais e filhos nunca irão se compreender totalmente. Porque exigimos perfeição um do outro e nunca a teremos, afinal. O fato é que, tenhamos a idade que tenhamos, devemos amá-lo incondicionalmente, pois nunca saberemos quanto tempo disporemos de sua companhia. Ora ou outra, a distância ou a morte arranca-o de nossos braços, e é nesse momento em que percebemos, com lágrimas nos olhos, que nossos braços sempre foram curtos e infantis, e que sempre estiveram espichados em volta do pescoço daquele que foi e será nosso eterno maior herói.