segunda-feira, 5 de maio de 2014

Proseando...

Contos do céu e da neve. Parte I



          Dentre tantos amores impossíveis que permeiam o caminhar dos tempos, de certo que este seria um deles! Tal qual manda o figurino, dois seres de mundos diferentes se percebem, mesmo contrariando a lógica das convicções pré-estabelecidas. É, na verdade, um amor que não difere tanto assim de tantos que você já ouviu falar, mas, nem por isso, merece ter sua história preterida...

        Começa quando uma pequena coruja, aventureira como só ela, decide voar para além de suas fronteiras. Simplesmente resolvera, naquele dia, que devia se arriscar e chegar ao local que, há tempos, observava ao longe! Há muito, a neve a seduzia e ela decidiu que chegaria o mais perto que conseguisse de seu destino tão almejado.

          E, à medida que se aproximava da imensidão nívea, fechou os olhos para sentir a cócega gostosa produzida pelo ar frio em suas penas e deixou que o vento cuidasse de seu curso. Planou cegamente em direção ao desconhecido, sem se importar para onde estava indo. E, algum tempo depois, questionou-se se deveria ter confiado tanto assim no trajeto que lhe era oferecido pelo ar.

        Teria sido culpa do vento que ela chegasse àquele local? Ou há um destino que todos nós devemos cumprir, afinal? Nem eu mesmo tenho resposta para estes questionamentos. Menos ainda a pobre corujinha que, no momento em que reabriu os olhos, recebeu em troca um olhar que a cativou. Os olhos que a fitavam não estavam pelos céus, como era de se supor. Eles andavam rasteiros pela superfície e pertenciam a um urso cuja pele se camuflava na neve.

        A coruja, de sobressalto, interrompeu seu voo e passou a admirar, de longe, tão lindo animal. Na verdade, fez isso dia após dia, suplicando que o urso a notasse por sobre as nuvens. E, mesmo à distância, o pequeno coração da criatura alada ia se enchendo de sentimentos. Ela encarava o frio da neve todos os dias e voava sempre mais baixo com a esperança de diminuir a distância de seus mundos.

       E, em mais um dia de coragens tolas, a corujinha desceu o suficiente até conseguir pousar no galho seco de uma árvore morta - onde percebera que o urso costumava descansar - para segredar-lhe a grande estima que nutria por ele... O fato de o frio ser um tormento para ave e de suas patas quase congelarem não a detinha, ela simplesmente queria estar ali, queria provar para si mesma que tinha forças para oferecer a este novo sentimento, por mais improvável que ele fosse.

        Mas, afinal, esta é a história de um amor impossível e, sinto dizer a vocês, ela não obteve a resposta que esperava...

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