Reencontro
“Sinto sua falta...”, foi o que
ela disse, com esforço. Seus olhos mal se levantavam, não o fixavam
diretamente. Suas mãos tremiam, assim como seu coração. E ele respondeu
rapidamente: “Eu estou aqui!”. Mas também não conseguiu fitá-la. Suas palavras
foram ditas em sussurro, mas havia uma urgência tamanha em sua voz, que se
aproximava ao desespero.
E eles faziam tanta falta um para
o outro, mas o que eles não entendiam era em que momento se distanciaram se era
tão nítido em suas palavras a necessidade de estarem juntos. E cada um refez em
seus pensamentos a trajetória de tudo o que acontecera até ali. Não houve,
entretanto, uma resposta certa para esta questão.
Mas era certo que isso ocorrera.
Uma parede foi tomando forma entre os dois. Talvez um pudesse pôr a responsabilidade
no outro, ou a culpa poderia ser de nenhum dos dois... Ou de ambos! As
conversas foram ficando escassas e levaram consigo os sorrisos e os abraços. A
cumplicidade que outrora houvera agora era quase um incômodo de não saber agir
na presença do outro...
Talvez não saber agir não seja o
termo correto. De fato, eles sabiam o que queriam: queriam um ao outro, queriam
abraço demorado, acolhimento sincero, mãos entrelaçadas e comentários bobos (ou
intelectualizados) sobre os acontecimentos da vida. Da vida dos dois, da vida
de cada um, da vida de qualquer um...
O fato era que ambos guardavam
esses pensamentos em seus respectivos corações. Bloquearem isso dentro de si
mesmos e por mais que suas almas gritassem uma pela outra, era o silêncio que
reinava pelos cômodos da casa.
Houve, porém, este dia! O dia em
que a angústia, há tanto sufocada, alcançou a superfície. E a dor resolveu
falar mas, tão angustiada estava, externou-se em forma de sussurros. Até porque
era difícil para eles viver esse momento. Ela era orgulhosa e nunca gostou de expor
suas dores e ele, irritadiço e sempre muito certo de suas opiniões.
Mas houve, enfim, esta ocasião em
que os olhos estavam voltados para o chão e cada boca pronunciou apenas três
palavras:
- Sinto sua falta...
- Eu estou aqui!
E nada mais precisava ser dito!
Entretanto, as lágrimas cuidaram de continuar este diálogo mudo, tão bem
compreendido por ambos. As mãos se tocaram e ele a puxou para seus braços, para
seu colo. Ela, por sua vez, encostou suavemente a cabeça nos ombros dele -
lugar que há tanto buscava.
Depois de algum tempo imóvel, ela
sorriu. Sentiu-se feliz novamente. Sentiu-se aquecida, acolhida, amada! E ele
sentiu o abraço que tanto havia esperado, que tanto havia pedido em silêncio. E
seus corações pulsavam em um mesmo ritmo acelerado! E suas mãos, que
acariciavam um ao outro diziam que em nenhum momento eles haviam deixado de se
amar.
Ela, então, aconchegou-se no colo
dele, fechou os olhos, e lá ficou. De alguma maneira ela sabia que tudo iria
melhorar e teve certeza, novamente, de que o amor que existia entre eles
duraria para sempre.