Em meio à pandemia do Novo Coronavírus surgiu a expressão do “novo normal”, altamente conhecida e difundida pelos meios de comunicação. É uma expressão autoexplicativa e significa, simplesmente, que o mundo não voltará ao ‘normal’ que conhecemos, e teremos que aprender a lidar com um hábitat diferente, e este novo ambiente será o “novo normal”.
Mas, sinceramente, essa expressão
me incomoda muito, porque não sinto que ela é propagada como um período
transitório, mas, ao contrário, parece que todo mundo já se acostumou com uma
ideia de mudança de rotina permanente, definitiva. E pensar que nosso cotidiano
será assim me sufoca mais do que a máscara obrigatoriamente assentada em meu
rosto!
Sabe aquele filmes
pós-apocalípticos em que a humanidade conseguiu, enfim, destruir o planeta e as
pessoas precisam viver entocadas e ao sair, cobrem seus corpos e rostos porque tudo,
até mesmo o ar, é um perigo à vida? Pois é essa sensação que a expressão “novo
normal”, da maneira que é dita, causa-me. A sensação de “acostume-se pois daqui
por diante será assim”. E eu não quero acreditar que o ‘normal’ será um mundo
frio e mascarado.
Eu não quero que seja considerado
normal um mundo em que os meus sorrisos jazerão encobertos por máscaras de
dupla camada. Não considero normal usar uma engenhoca de plástico que possui
dois pares de braços disformes para abraçar quem eu estimo. Não é nada normal,
para mim, não poder estar na companhia de meus amigos. Não quero ter medo de
tocar, sentir, cheirar, amar. Tudo isso seria NOVO, certamente, mas jamais
seria NORMAL.
O normal não deveria pertencer ao
mesmo contexto que máscaras, luvas, álcool 70, água sanitária e isolamento
social. Nós não deveríamos confundir normalidade com os cuidados que devemos
ter enquanto a crise, pela qual passamos, não se extingue. Um normal novinho em
folha não deveria ser sufocante e assustador. Isto não é normal: é fatalidade,
é tragédia! E tragédias, por mais sequelas que deixem, são passageiras.
Não estou aqui dizendo que
devemos despir nossas máscaras imediatamente, parar de nos besuntarmos de
álcool em gel e irmos todos às ruas nos aglomerarmos à vontade. O que quero
mesmo dizer é que não devemos nos satisfazer com, e até esperar, esse tal “novo
normal”. Devemos ansiar voltar àquele normal normal, sabe? Aquele normal
regular, ordinário, do dia a dia, cheio de mesmice, que às vezes até entedia a
gente.
Precisamos acreditar que cada
passo que damos, em meio a esta pandemia, é necessário para que passemos por
esse momento, repito, transitório e,
depois de tudo, mesmo que demore mais do que gostaríamos, voltaremos ao NORMAL!
Que de NOVO, apenas deve possuir mais empatia, mais amor, mais respeito, mais
experiência. Porque uma tragédia como essa deve servir para que evoluamos: dela
remanescerão muitas cicatrizes e também muito aprendizado!
Que o novo normal traga consigo fôlegos
renovados e sorrisos mais verdadeiros depois de terem ficado tanto tempo
aprisionados em máscaras; que os apertos de mão sejam mais firmes e sinceros
depois de doses cavalares de desinfecção; que os abraços sejam mais sinceros
quando os corpos puderem dividir o mesmo metro quadrado; que os beijos sejam
mais calorosos quando as salivas puderem se misturar novamente; e depois de
entendermos, nova e veementemente, como a vida é frágil, que o amor seja mais
genuíno!
Esse sim é o novo normal onde
devemos colocar nossas expectativas e pelo qual todos devemos, diariamente, almejar.
Cuidemos de nós, tomemos todas as precauções hoje necessárias, porque cuidando
bem direitinho da gente, a gente cuida de todas as outras pessoas. Somente
assim poderemos superar esse momento terrível, mas passageiro, e encontrar ali na frente não um “novo normal” cheio de
medidas restritivas, e sim o bom e velho normal.
Só normal mesmo!